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Ajax e a sua fantástica fábrica de talentos do futebol  

Com sua fantástica fábrica de talentos do futebol, o futuro no Ajax é sempre o agora. Conheça os prós e contras disso. 

antony com a camisa do ajax
Antony é só mais um dos jovens jogadores brasileiros ao passar pela fábrica de talentos do Ajax, antes de ir a ligas maiores. Hoje, o ex-são-paulino defende o Manchester United, na Premier League, e pode ir à Copa do Mundo com a Seleção (Reprodução: Instagram)

O Ajax vendeu a maior parte de seu elenco pronto para a Liga dos Campeões durante a última janela de transferências e quase sem pensar, mas o clube pode se dar ao luxo devido à sua tradição de sempre revelar e até mesmo trazer novos nomes para o cenário do futebol mundial. 

Há muito tempo o Ajax é um lugar de onde os jogadores conseguem observar uma oportunidade de formação, talvez a fábrica de talentos mais eficiente, confiável e de alto calibre do futebol mundial. O Ajax viu Johan Cruyff, Marco van Basten, Dennis Bergkamp, Wesley Sneijder, Frenkie de Jong e inúmeros outros virem em suas categorias. E, por meio século, também assistiu a todos eles indo para outros clubes. 

Nesse sentido, essa janela de transferências não foi diferente, começou com Edwin van der Sar, ex-goleiro do clube que agora é seu presidente-executivo, se despedindo do goleiro André Onana que partiu para a Inter de Milão. E também teve a ida do lateral-direito Noussair Mazraoui, que tinha um acordo com o Bayern de Munique. O dirigente não parecia perturbado com a possível perda de Ryan Gravenberch, um talentoso meio-campista de 20 anos, que logo seguiu Mazraoui para Munique. 

“Ele deseja sair.” Disse van der Sar.

Promoção de aniversário

Sua serenidade não foi surpresa, o Ajax já tem consciência da saída dos jogadores e de fato já espera que os jogadores sofram o assédio dos gigantes e saiam. No final de agosto, porém, o clima na hierarquia do clube havia mudado. As saídas não pararam com as despedidas de Mazraoui, Onana e Gravenberch. Sébastien Haller, o ponto focal da linha de ataque do Ajax, foi para o Borussia Dortmund. O zagueiro Perr Schuurs se juntou ao Torino na Itália e Nicolàs Tagliafico, o lateral-esquerdo de longa data do clube, foi para o Lyon.

Saídas causam problemas

Os dois que mais foram sentidos, no entanto, foram Antony e Lisandro Martínez, o atacante brasileiro, ex-São Paulo, e o zagueiro argentino eram muito queridos pela torcida. Tanto Antony como Martínez terminaram no Manchester United, onde se reencontraram com a outra figura significativa que o Ajax tinha perdido nessa janela, o treinador Erik Ten Hag.

Antony, defendendo o São Paulo. Do Tricolor, ele foi para o Ajax e a partir desta temporada atua na badalada Premier League. É um dos nomes para fazer parte da lista final da Seleção na Copa do Mundo do Catar (Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC)

Eles não foram para a Premier League de forma muito amigável com o clube, claramente houve um descontentamento de ambas as partes. Antony teve que se recusar a treinar para forçar sua saída, e mesmo assim, o Ajax resistiu o suficiente para forçar o United a pagar US $101 milhões por sua assinatura de contrato, enquanto Martínez teria confrontado o diretor esportivo Gerry Hamstra sobre os impedimentos do clube em deixar o jogador sair.

Mesmo quando a saída de Antony se aproximava, o substituto de Ten Hag como treinador, Alfred Schreuder, já havia deixado claro que achava que tinha acontecido mudanças demais.

“Já demitimos muitos jogadores. Queremos manter um elenco forte. Novos jogadores chegaram e contamos a eles quais são nossos planos.” Disse o treinador ao encarar a possibilidade de perder o brasileiro. 

O consolo para o clube é o orçamento anual do Ajax estar na região de US $170 milhões. Só as vendas de Martínez e Antony geraram cerca de US $150 milhões, esse dinheiro permitiu ao Ajax não apenas quebrar o recorde de transferências holandesas para contratar Steven Bergwijn do Tottenham, mas também pagar uma folha salarial que supera em muito qualquer um de seus rivais holandeses. Essa vantagem financeira ajudou o Ajax a conquistar todos os títulos da Eredivisie desde 2019.

Torcida perde suas referências

Existe uma tristeza na torcida, uma consciência de que o sucesso do Ajax também é sua queda, justamente porque caso haja uma boa performance do clube na temporada e quanto melhor for a produção de jogadores, mais certo é que esses jogadores vão sair. Há uma sensação de que se ao menos Gravenberch pudesse ter jogado ao lado de De Jong e não no lugar dele antes de sair para o Bayern e se Antony pudesse ficar mais um ano, talvez o clube teria mais sucesso entre os grandes, principalmente na Champions League.

Contribuição para o futebol

O Ajax hoje é uma das principais fábricas de jogadores do mundo, o time educa novos jogadores ao invés de simplesmente contratar e muitas vezes isso aconteceu com jogadores brasileiros, como Filipe Luís (sucesso no Atlético de Madrid e hoje no Flamengo) e os ex-são-paulinos Antony e David Neres, estes exemplos mais recentes. O clube traz esses jogadores mais novos em ascensão e finaliza a formação desses atletas nas categorias do clube.

Gnocchi pode ter apostado no jovem atacante Brobbey para ser a próxima cara do clube na Europa, mas ele acredita que a camisa mais popular nas arquibancadas do estádio do Ajax não é a de um superastro em ascensão, mas de Dusan Tadic, o veterano craque do clube. Tadic tem 33 anos e ele possui contrato com o clube até os 36 anos, o jogador sempre se firmou como destaque do clube.

Mas para a torcida também há motivo de orgulho em saber que o Ajax está produzindo, em grande quantidade, um bom número de ótimos jogadores que os clubes mais ricos do mundo desejam. Há esperança também de que esses jogadores, num futuro próximo, queiram permanecer no clube, mas é algo que será difícil pois a liga holandesa não pode ser comparada a uma disputa de Premier League, por exemplo.

Existe um senso de identidade no clube, os nomes nas camisas podem ser descartados e outros vem no lugar, mas o próprio clube representa algo que antes temia ter perdido para sempre, ser essa fábrica de grandes talentos. Isso, mais do que tudo, dá aos fãs do Ajax algo para se pensar e confortar quando pensam na história do clube e suas contribuições para o futebol.

“Acho que, após a decisão de Bosman em 1995, o Ajax passou por uma crise de identidade. Não sabíamos mais ser o Ajax. Você ouviu dizer que nunca mais poderíamos competir na Europa, que ganhar a Liga dos Campeões simplesmente não era possível. E a maioria das pessoas estava bem com isso. Mas, nos últimos anos, eles encontraram a resposta para essa pergunta. Eles descobriram como ser Ajax no mundo moderno. Temos que reconstruir completamente a cada três anos, e de vez em quando temos uma equipe realmente ótima, que pode ir até o fim. E quando o fazemos, é algo que é completamente nosso.” Falou Menno Pot, autor de “The New Ajax”, um livro que examina a transformação do clube nos últimos anos. 

O Clube busca a reestruturação do elenco após as saídas e agora visa avançar na Champions League, além de seguir com consistência para conquistar mais uma vez o título do Campeonato Holandês.  

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