Thomas Tuchel demitido: Bastidores e como o Chelsea perdeu a confiança de que ele era o homem certo para o futuro do clube
A demissão de Tuchel veio de longa data, não foi somente uma reação instintiva à derrota na Liga dos Campeões para o Dínamo de Zagreb. Tuchel foi chamado para uma reunião presencial na quarta-feira e foi informado de que seu comando de 589 dias no clube havia terminado. O técnico, segundo fontes, não esperava a notícia e sai depois de vencer 60 de seus 100 jogos no comando, incluindo a final da Liga dos Campeões de 2021.
O 100º jogo de Tuchel terminou com uma surpreendente derrota por 1 x 0 para o Dínamo Zagreb na partida de abertura do Grupo E da UEFA Champeons League na terça-feira. E houveram também derrotas para o Leeds (3-0) e Southampton (2-1) nessa temporada. Mas na verdade foi uma derrota por 4 a 0 para o Arsenal na pré-temporada que fez os novos donos americanos do Chelsea perceberem que uma mudança poderia ser necessária.
Tuchel mostrou uma figura frustrada e esgotada após aquela pesada derrota em Orlando, desabafando sobre a falta de movimento do clube no mercado. E, nesse ponto, Tuchel estava no direito de lamentar uma janela turbulenta que começou com sanções e viu um novo consórcio liderado pelos americanos substituir Roman Abramovich.
O trabalho adicional de Tuchel foi contra ele
O técnico recebeu um papel muito ativo e integral, se tornando também diretor esportivo, função muito além de seu mandato sob Abramovich, e foi sua frieza atrás de portas fechadas, juntamente com a falta de habilidades de comunicação, que acabou levando à sua demissão.
O proprietário minoritário do LA Dodgers e agora presidente do Chelsea, Todd Boehly, é o rosto do novo grupo de proprietários e foi apoiado nas negociações de transferência pelo colega do conselho Behdad Eghbali, cofundador do acionista majoritário do Chelsea, Clearlake Capital. A dupla depositou sua fé em Tuchel e lhe disse que um orçamento de mais de US$ 300 milhões estava disponível.
Ambos deixaram claro para Tuchel que ele teria total autonomia sobre as transferências, pelo menos no curto prazo, até que um novo diretor esportivo fosse nomeado. Mas, em troca, o alemão de 49 anos foi informado de que ele deveria se adequar à nova estrutura e principalmente à nova cultura do clube.
Tuchel inicialmente gostou da responsabilidade adicional, oferecida por uma mistura de desejo e necessidade, fornecendo uma longa lista de possíveis novos jogadores, incluindo Raphinha, Richarlison, Ousmane Dembele e Frenkie de Jong. Mas sua suposição diante do novo cargo era que Marina Granovskaia ainda faria a maior parte do trabalho. No entanto, a ex-diretora do Chelsea, conhecida por sua agenda de contatos e habilidades de negociação pouco eficientes, saiu em junho numa grande mudança no conselho, deixando Boehly assumir o controle das transferências.
A expectativa de Boehly era que Tuchel fizesse parte do grupo de transferências e estivesse disponível para atender ligações diárias. Mas Tuchel não gostava do contato diário, especialmente quando estava ocupado planejando uma nova temporada ou se preparando para jogos. Um grupo de WhatsApp foi iniciado para garantir uma rápida ida e volta, mas o técnico não era fã.
Em essência, Tuchel ansiava pelo poder de tomada de decisões enquanto ainda dedicava todo o seu tempo às funções de treinador principal, algo que simplesmente não era possível com um diretor esportivo interino tão inexperiente.
Os novos proprietários do Chelsea queriam um ajuste diferente
Boehly não está apenas tentando construir um grande sucesso para o clube, mas tem a intenção de mudar a estrutura e a cultura do Chelsea. Isso significa que a personalidade e o ajuste são tão importantes quanto o talento de um treinador de futebol.
É também por isso que os novos proprietários do Chelsea usaram seus primeiros 100 dias no comando para avaliar todas as áreas de negócio, isso incluiu uma avaliação do papel e das responsabilidades de Tuchel.
O animado alemão pode ter se tornado querido pelos torcedores do Chelsea por tantas vezes usar sua personalidade efusiva para esquentar os jogos, algo aparente no empate por 2 a 2 no derby de Londres com o Tottenham, que incluiu um aperto de mão firme e prolongado com Antonio Conte.
Longe de treinar, o alemão queria que o clube fosse fortalecido por seus pontos de vista, mas esperava que a diretoria estivesse alinhada a isso. Ele ficava bravo, como qualquer treinador, se as sessões de futebol fossem interrompidas. Mas simplesmente não era possível deixá-lo se concentrar apenas no futebol com o novo grupo de proprietários apenas três meses depois, após uma revisão significativa do conselho durante uma janela de transferências vital, que se tornou ainda mais importante após as saídas de Antonio Rudiger, Andreas Christensen e Romelu Lukaku.
O comandante sentiu que Granovskaia, ainda contratada como conselheira do clube, deveria ter sido solicitada a desempenhar um papel mais ativo e pessoal nas transferências durante a janela. Ele também ficou chateado com a saída do consultor técnico e de desempenho Petr Cech, ex-jogador e lenda do clube.
Do ponto de vista do grupo de proprietários, muito antes de os resultados ruins chegarem, havia dúvidas se Tuchel poderia se encaixar no novo conselho e contribuir de forma agressiva e pessoal o suficiente para atrair certos objetivos e unir um vestiário tão dividido.
Tuchel pode argumentar que a nova estrutura era muito caótica com tantas grandes mudanças. É uma crítica justa a uma estratégia ambiciosa, mas Boehly queria um treinador que pudesse jogar fora do campo de futebol.
Janela de transferências não foi fácil
A janela de transferências foi tumultuada, Tuchel ficou irritado com o tempo que levou para assinar com Aubameyang e sentiu que Granovskaia teria conseguido um acordo de US $ 40 milhões por Edson Alvarez, do Ajax, especialmente depois que o jogador perdeu o treinamento para tentar forçar a saída do clube.
Apoiar Tuchel tão fortemente e tentar envolvê-lo no lado comercial das contratações, expôs de forma ruim sua falta de adequação para trabalhar dessa forma dentro dos conceitos dos novos dirigentes do clube. Nesse contexto, a saída de Tuchel se deve realmente por não ser adequada para o futuro, especialmente porque o Chelsea muda agora para um modelo de avaliação de contratações semelhante ao do Liverpool, se tornando mais dependente de dados e decisões lideradas por maioria.
Outra coisa atípica sobre Boehly ser diretor esportivo interino é que ele passou bastante tempo com funcionários e jogadores do clube, em contraste com Abramovich. Isso permitiu que ele ouvisse relatos de todas as perspectivas, incluindo conversas diretas com vários jogadores importantes. Boehly conversou com Lukaku antes de seu empréstimo para a Inter e desenvolveu um relacionamento de confiança com o capitão Cesar Azpilicueta e Thiago Silva, seu conhecimento do que acontecia dentro do vestiário de Tuchel era bem informado.
O feedback dos jogadores foi bom e mostrou um claro respeito por Tuchel como treinador, mas também houve pedidos de mais mão de obra na gestão. Armando Broja quase foi para o West Ham porque não tinha ideia clara de quantas vezes jogaria nesta temporada ou se seria emprestado, enquanto Hakim Ziyech e Christian Pulisic mostraram confusão sobre seu papel e tempo de jogo. Ziyech idealmente queria uma transferência para o Ajax e Pulisic teria ficado satisfeito sendo emprestado para a Juventus se uma oferta chegasse.
Tempos difíceis
Os novos donos do Chelsea agora realizarão uma reunião para falar com o elenco, mostrando uma proposta clara sobre o atual planejamento e metas do clube, enquanto os tranquilizam sobre a estratégia de longo prazo em vigor. Eles sabem o quanto é importante serem transparentes com os jogadores, dada a incerteza atual.
São tempos dramáticos e instáveis no Chelsea, com muitos torcedores também confusos com o momento e o raciocínio por trás da saída de Tuchel.
Agora com o novo técnico Graham Potter a nova administração precisa acertar, pois a longo prazo essa pode ser a decisão mais importante dos proprietários americanos para ajudar a trazer calma e também porque o fluxo constante de mudança, seja por ambição ou necessidade, simplesmente não pode continuar.