Violência no futebol, esse tema pode parecer repetitivo, mas é um tema infelizmente super atual, pois apesar dos esforços que os órgãos dos países, organizações e entidades tem feito nos últimos anos, com várias medidas sócio-educativas e punições nas esferas cível e penal, ainda surgem novos focos, e recentemente parece que até aumentaram depois de um período mais ameno, muito devido às partidas sem público por conta da Pandemia da Covid 19.
O último caso, aconteceu com o meia William, do Corinthians (BRA), não foi uma violência física, mas foram registradas ameaças ao atleta, o camisa 10 do Timão foi à Polícia Civil fazer Boletim de Ocorrência nesta semana. Foi a segunda vez que o jogador procura o órgão por receber mensagens com esse teor em suas redes sociais. Depois do jogo do último final de semana do Corinthians, as ameaças se intensificaram contra o jogador, sua esposa, sua família, vindas de torcedores que reclamavam que o atleta era de vidro, e se lesionava muito fácil. Em uma dessas ameaças, um torcedor afirmava que iria descobrir onde os filhos do jogador estudavam, dessa forma coagindo o atleta. Em uma outra mensagem recebida, um torcedor escreve o seguinte “Corinthians é tiro, é bandido, é facada, time de favela, de bagunça. Não é essa porra que tá aí não, cambada de marica. Ou joga por amor ou joga por terror!! Já vai tarde, fi (sic). Tem que ser homem em dobro pra vestir nossa camisa, (palavrão)”
Vale salientar que o William, já jogou nos melhores times da Europa, na seleção brasileira, já jogou Copa do Mundo, e mesmo assim foi ameaçado, por esse motivo que muitas vezes os jogadores brasileiros tem o desejo de ir para o exterior, e muitos jogadores brasileiros que já jogam no exterior não tem o desejo de retornar, o Brasil é um país onde existe muita paixão, onde os torcedores são completamente apaixonados pelos seus clubes, mas que muitas vezes essa paixão se torna violenta, e por esse motivo, muitas vezes os jogadores prezam pela segurança de se jogar fora do país.
Num intervalo de 2 meses, esse é o segundo caso de ameaça só no time do Corinthians, recentemente o goleiro Cassio, considerado por muitos como o maior goleiro da história do Corinthians, campeão da Libertadores da América e campeão mundial de clubes pelo timão, foi ameaçado de morte também. As ameaças foram direcionadas ao jogador e à sua esposa através do perfil de um torcedor, pro perfil do personal trainer da esposa do jogador, foram enviados áudios com ameaças de morte e uma foto com um revólver em cima da camisa do clube alvi-negro, “ou esse vagabundo pede para sair, ou a coisa vai ficar mais embaixo. Pode mostrar, pode mostrar essa porra. Esse é o recado que “nóis” tá dando – diz o autor das ameaças em um dos áudios. Em outro áudio, o torcedor avisa que é questão de tempo até ele encontrar o jogador e sua esposa, caso o jogador não peça para sair do Corinthians: “É questão de tempo. Não sei o que a gente vai fazer, matar eu não sei, mas vamos achar e esculachar. E pode dizer que estamos fechados com o português (o técnico Vítor Pereira), entendeu? Não com vagabundo paneleiro. O recado vale para todos”. Após as ameaças, o goleiro também fez um Boletim de Ocorrência na Polícia.
No dia 28 de fevereiro, o ônibus do Grêmio, foi alvejado por torcedores do Internacional, com pedras sendo arremessadas contra os vidros do veículo, e atingindo alguns jogadores, entre eles, o jogador Villasanti, o qual teve o rosto atingido por uma pedra, muito próximo ao olho, tendo inclusive traumatismo craniano. O clássico Grenal foi adiado para outra data em virtude do acontecimento.
Também em fevereiro, após o Paraná Clube ser rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Paranaense, ao final do jogo, a torcida invadiu o gramado com paus e pedras a fim de agredir os atletas do seu time, fato que causou uma grande confusão entre polícia e torcedores, com bombas de efeito moral e balas de borracha atiradas contra os torcedores.
Outro episódio muito lembrado quando se fala em violência no futebol, foi no rebaixamento do Coritiba em 2009, quando numa partida muito nervosa contra o Fluminense, o time alviverde acabou rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, amplamente divulgada na mídia, a torcida do Coritiba em fúria, invadiu o gramado do estádio Couto Pereira, em Curitiba-PR, para depredar o próprio patrimônio, assim como agredir os jogadores, tanto de Coritiba quanto de Fluminense, e mais uma vez vez a polícia teve que intervir para evitar uma tragédia. O resultado disso foi uma multa para o Clube, mais a perda de mando de 10 jogos longe de Curitiba, a maior pena de perda de mandos da história a um clube brasileiro.
Mais recentemente, tivemos o episódio dos torcedores do Saint-Étienne, que após uma disputa por pênaltis pelos playoffs de rebaixamento no Campeonato Francês temporada 21/22, invadiram o gramado e atiraram sinalizadores contra os jogadores e comissão técnica do clube, que conseguiram escapar pelo túnel de acesso ao gramado, evitando assim cenas ainda mais lamentáveis no estádio, num episódio que lembrou bastante a invasão de campo da torcida do Coritiba no Couto Pereira, já citado aqui.
Exemplos não faltam, e pelo que estamos vivendo, não é tão cedo que essa violência irá acabar, infelizmente. No primeiro caso citado aqui, o caso do William, o torcedor foi achado e levado à polícia, tendo pedido desculpas ao jogador, ele responderá pelo crime de ameaça, e já foi liberado. O grande problema é que achar os responsáveis se torna muito difícil, e ao mesmo tempo os crimes virtuais aumentam pela falta de punição. Está na hora de revermos os moldes de punições aos clubes e torcedores para que assim possamos melhorar no sentido de se diminuir a violência no futebol.