Em toda Copa do Mundo parece haver uma certeza, a de que um país europeu ou sul-americano vai conquistar o título de campeão do mundo. É um fato histórico, é claro, nenhum país de outro continente venceu a competição e não parece que essa hegemonia terá um fim em breve.
Contudo, há um esboço de países como Marrocos, do continente africano, que foram para a Copa deste ano fazer história e mostrar que o mundo do futebol não está concentrado somente em dois continentes. Tivemos Marrocos chegando às semifinais e a Argentina, campeã, perdendo no seu primeiro jogo para a Arábia Saudita.
O resultado de ambas as seleções certamente impressionou muito, mas há um recado por trás de tudo isso. Há uma nova perspectiva sobre essas seleções e certamente essa Copa serviu também para isso.
Chega para ficar
Podemos dizer que ainda há o domínio do continente americano e do europeu, ainda não há como isso mudar e certamente não veremos uma evolução do futebol de outros continentes para desbancar as já consolidadas competições e principalmente os times europeus e sul-americanos. Mas o desempenho de uma seleção como Marrocos nessa Copa mostra que podem ser tempos de mudança no futebol mundial. No início da competição não sabíamos nem mesmo quais eram os destaques dessa seleção histórica, conhecíamos, claro, dois dos mais famosos jogadores, Hakimi e Ziyech, do PSG e Chelsea, respectivamente, mas os demais não tínhamos e nem poderíamos ter noção.
No entanto, vimos uma equipe sólida defensivamente e que incrivelmente só levou um gol adversário da França nas semifinais. O que dá a ideia do quão boa é essa seleção. Conforme os resultados foram acontecendo, vimos o time se fortalecer e quase inacreditavelmente eliminar grandes adversários.
Como dizer que uma seleção que alcançou tal patamar numa Copa do Mundo não chegou para ficar? Como dizer que os jogadores desconhecidos que fazem parte dessa equipe não podem jogar num grande clube europeu? Não há como. Eles podem, é uma seleção que chegou para ficar e mostrar o quão evoluído o futebol está nessas regiões não exploradas por quem geralmente acompanha somente as principais competições.
Uma perspectiva africana
No Catar tivemos agradáveis surpresas africanas, felizmente para a história do futebol. As seleções e os times do continente geralmente são subestimados, muito se fala de apenas força física e velocidade, parece que apenas esses aspectos definem os jogadores africanos, mas vimos o contrário nesse mundial e certamente abriu os olhos de muitos para o futebol no continente.
Durante a primeira fase tivemos duas agradáveis surpresas, uma delas foi Camarões vencendo o Brasil por 1 a 0 na última rodada da fase de grupos. Um resultado histórico, uma vitória comemorada como um título mundial. A Seleção Brasileira significa o ápice do futebol nesses países, futebol e Brasil lá, assim como em muitos lugares do mundo, são sinônimos. Então vimos uma expressão gigantesca da felicidade de Camarões com a vitória sobre o Brasil. Um significado enorme e não poderia ser diferente, em Copas do Mundo foi a primeira vitória de uma seleção africana sobre a seleção brasileira. Um marco histórico para o país, apesar da eliminação, cada segundo até a vitória certamente valeu a pena.
A Tunísia, que também não conseguiu se classificar, venceu a França também na última rodada. Alguns podem falar que o motivo foi que a equipe francesa optou por jogar com os reservas pois já estava classificada. Claro, esse foi um dos motivos, mas há mais nessa vitória. A ex-atual campeã mundial não poderia, teoricamente, sofrer uma derrota como essa. Mas sofreu, ficou marcado e essa foi mais uma grande vitória histórica para o futebol do continente africano.
Marrocos fez o que era impensável, não se poderia imaginar o 4º lugar nessa Copa. Mas conseguiu e essa história merece mais detalhes.
A maior história da Copa
Marrocos caiu num grupo composto por Croácia, Canadá e Bélgica. Logo poderíamos pensar que seria uma das seleções eliminadas, assim como o Canadá, dada a força das seleções europeias, teoricamente.
Na sua primeira partida vimos Marrocos se impor defensivamente e conquistou de forma sólida um empate em 0 a 0 contra a Croácia. Era uma final para Marrocos e ali conquistava seu primeiro título. Contra a Bélgica vimos o potencial dessa equipe sendo demonstrado com a vitória por 2 a 0, no entanto, a grande vitória sobre uma ótima seleção europeia ficou mascarada pelo péssimo momento que a Bélgica viveu nesse mundial. O Canadá viu a força dessa seleção de Marrocos se expressar numa grande partida, onde a seleção africana venceu por 2 a 1. Marrocos estava na semifinal da Copa do Mundo.
O confronto das oitavas de final era contra a Espanha, seleção cotada como uma das grandes e que poderia chegar ao título. A classificação espanhola era dada como certa, mas não foi o que aconteceu. Marrocos empatou por 0 a 0, levou para os pênaltis e venceu. Calou a todos, impressionou o mundo do futebol e a partir desse momento não poderia mais ser considerada uma zebra.
Portugal foi a seleção que sofreu uma derrota num jogo exemplar dessa seleção marroquina. Demonstrando um futebol sólido e muito eficiente, Marrocos conquistou a classificação com uma vitória por 1 a 0, estava na semifinal.
Contra a França tivemos uma expressão do futuro do futebol marroquino. A eliminação para os franceses por 2 a 0 doeu, claro, mas certamente mostrou que essa seleção poderia ter vencido e conquistado ainda mais nessa Copa do Mundo. Jogou como nunca havíamos visto, se empenhou de tal forma que poderia ter conquistado o resultado e chegado na final. Mas não aconteceu e foram para a disputa do terceiro lugar contra a Croácia onde perderam por 2 a 1, encerrando assim a grande história de conquista de Marrocos e do continente africano nessa Copa do Mundo.
Conquista africana
Diante do resultado o que fica é a conquista do continente africano nessa Copa do Mundo. O futebol apresentado mostrou que o mundo pode e deve olhar para o continente com olhos de quem vê o esporte em pleno desenvolvimento dentro das suas características.
Marrocos deixa um legado, mostra o poder que sua história tem e certamente podemos ter visto um novo capítulo da história do continente africano no futebol mundial.
