O técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, concedeu entrevista ao jornal A Bola, de Portugal, na qual cobra decisões dos líderes do Brasil na pandemia. “Ser líder e não tomar decisões é fácil”, reclamou.
O treinador ganhou um período de férias em sua terra natal. Em seu período em São Paulo, o treinador mora na Academia de Futebol, o Centro de Treinamento palmeirense. Em virtude justamente da pandemia de Covid-19, não trouxe a esposa e as suas duas filhas, das quais admitiu sentir muita falta.
“Não vejo as minhas filhas crescer. É um preço alto”, disse, entre lágrimas, segundo relato do veículo português.
Questionado sobre até quanto tempo estaria disposto a pagar esse preço da distância da família, respondeu: “Não sei. [longa pausa]. Sabe, eu acho que a própria pandemia nos tirou muitas coisas. Antes havia voos diretos do Porto para São Paulo. Agora não. A distância… sendo eu uma pessoa de família…”
“Os meus jogadores às vezes me falam: ‘Professor, traz a tua família’. Eu estou muito bem resolvido sobre isso. Eu sou o que sou hoje por causa da minha esposa, que me acompanha há muitos anos. Falam que por trás de um grande homem há uma grande mulher. Não! Ao lado. Está ao lado. Nós prevíamos isto, eu estava à espera do meu sonho”, declarou Abel.
“Já como jogador queria ir para fora, experimentar culturas e um futebol diferente… Agora, debaixo de uma pandemia desta… Ficamos mais sensíveis e privados de muita coisa. De dar abraços, de cumprimentar as pessoas, de dar beijos”, desabafou.
Pandemia o impede de ter a família mais perto
“Acredito que sem esta pandemia teria a família sempre mais perto. Sei que elas me apoiam a 200%. Tenho a minha esposa, mulher, amiga, meu tudo, porque de facto ela conhece tudo de mim. Quando fecho os olhos e olho para trás, ela está sempre lá. Ela sabe muito de futebol e às vezes até critica: ‘Por que fez essa substituição e não aquela?’. Outras vezes tenho dúvidas e ligo para ela. Acho que as mulheres têm uma sensibilidade diferente”, exaltou a companheira.
Cobrança por decisões rápidas dos líderes do Brasil
Com o País chegam a casa das 3 mil mortes diárias pelo novo coronavírus, Abel Ferreira cobro de autoridades brasileiras uma postura mais firme e corajosa para tomar decisões, ainda que sejam decisões difíceis. Inclusive, para ele, se o futebol tiver que ser afetado, que seja.
“Três mil morrerem ou uma pessoa morrer, para mim é igual. É uma vida. Não sei dizer se vamos ter que parar um mês, dois meses, não sei. Acredito que vai ter de parar. Os números são assustadores. Se tivermos que abdicar do que quer que seja, vamos fazer em prol da saúde”, defendeu.
“Precisamos pensar muito bem naquilo que queremos, principalmente os líderes, porque o exemplo vem de cima. Mais do que nunca precisamos que os líderes assumam posições de liderança, porque ser líder e não tomar decisões é fácil. Independentemente de errar ou não, um líder é mesmo isso, alguém que tem que assumir, tem que arriscar, tomar decisões, e tem que fazer cumprir as regras. Portanto, tudo isso é algo que me marca e me comove, porque foram dias difíceis [na Grécia, quando treinou o PAOK], duros, de muita angústia, de muita incerteza, ninguém sabia o que ia acontecer. Agora, estamos a falar do Brasil, que tem outra dimensão. É assustador”, disse na entrevista ao jornal A Bola.
“Bastávamos falar ‘todos somos um’, encararmos a pandemia com este espírito…Nós temos que encontrar uma solução conjunta e rapidamente tentar estancar a tragédia que estamos assistindo. Temos que fazer isso também para manter a imagem do Brasil aqui fora. O País precisa tomar medidas sérias para travar esta pandemia, o que obviamente vai ter reflexo no futebol.”
Sucesso no curto prazo
“No Brasil foram poucos [dias para ganhar títulos], mas isso é fruto de muito trabalho. O produto final saiu muito rápido no Palmeiras, mas foi uma maratona. Para atingir a Glória Eterna foi uma maratona…”
Trabalho em equipe
“A conquista não foi de um português, foi de vários. Cinco. Eu e mais quatro na nossa equipa técnica, com mais dois brasileiros, que têm muita competência, também, e toda uma estrutura. Falar de futebol e de um título como esse e atribuir a uma só pessoa, é injusto, na minha opinião, mas logicamente é um orgulho tremendo.”
Ligação e condecoração do presidente de Portugal
“Quando olho para a minha carreira, a evolução que tive como treinador e os clubes por onde passei, foi sempre uma trajetória ascendente. Trajetórias sustentadas em projetos, em clubes com identidade, com ideias. Logicamente, quando você olha para a Libertadores, para a Copa do Brasil, para o reconhecimento do Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso Presidente da República, que me ligou, e eu achei que era mentira [risos]. Disse-me que quando viesse a Portugal, que ele iria me condecorar com esta medalha”, contou Abel Ferreira, exibindo a condecoração, durante a entrevista.
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