A situação continua complicada na Espanha.
Assim como acontece em praticamente todos os países do mundo, a federação de futebol da Espanha observa o nível de disseminação do coronavírus e aguarda que, nas próximas semanas, a Organização Mundial da Saúde traga boas notícias. Javier Tebas, presidente de “La Liga” (a primeira divisão do Campeonato Espanhol), suspendeu a competição no dia 12 deste mês, adiando, a princípio, os jogos da 28ª e da 29ª rodada. Na última segunda-feira (23), porém, a Espanha confirmou quase 30 mil casos da Covid-19, com 1.720 mortes causadas pelo novo vírus. Com isso, um novo comunicado da instituição espanhola determinou que “La Liga” ficará suspensa por tempo indeterminado, isto é, até que as autoridades competentes autorizem a realização das partidas sem que haja risco para a saúde. Para isso, porém, os casos de contaminação pelo coronavírus terão de diminuir, mas não é isso o que está acontecendo na Espanha. Neste sábado, em apenas 24 horas, o país registrou 838 mortes, totalizando mais de seis mil mortes pelo Covid-19 no país. Neste sábado, a Espanha ultrapassou os setenta mil infectados e os números só aumentam. Por conta disso, à partir de segunda-feira (30), até pelo menos o dia 9 de abril, o país paralisará todas as atividades que não sejam essenciais à vida. É a chamada “hibernação da economia”, mas os trabalhadores seguirão sendo remunerados. O chefe de governo da Espanha, Pedro Sánchez (do Partido Socialista Operário Espanhol), explicou em entrevista coletiva que os trabalhadores que não puderem exercer suas atividades dentro de casa durante este período, deverão repor as horas que ficou sem trabalhar de maneira gradual, assim que puderem retornar ao trabalho. A expectativa destes trabalhadores, assim como do presidente de “La Liga”, é de que as coisas possam voltar ao normal o mais rápido possível.
Quando e como pode continuar “La Liga”?
Javier Tebas prevê um prejuízo de mais de três bilhões de reais caso não seja possível encerrar a atual temporada e, por conta disso, ainda trabalha com a possibilidade de que a competição retorne em maio. A previsão feita pelo presidente de “La Liga” foi divulgada ainda no início da pandemia, poucos dias depois de a competição ter sido suspensa. Javier Tebas descartou o retorno dos jogos ainda em abril, deixando o mês em aberto para que o foco seja total no combate ao coronavírus. Com isso, “La Liga” seria retomada à partir de maio. De acordo com o jornal espanhol “Marca”, os jogos da 28ª rodada seriam disputados na terceira semana de maio (especificamente nos dias 16 e 17). Desta forma, com dois ou até três jogos por semana (levando-se em consideração a Liga dos Campeões e a Liga Europa), seria possível que a temporada fosse encerrada em meados de julho. Em sua última entrevista, concedida à emissora de rádio “Cadena Cope”, Javier Tebas declarou: “Ainda temos vinte e cinco por cento da temporada para jogar e todo o orçamento terá que ser revisto, com grandes danos se as competições não terminarem. Os maiores clubes da Europa estão sendo afetados, assim como os menores. Todos os orçamentos das equipes ficarão comprometidos se as competições não forem concluídas, mas estou convencido de que serão”. No entanto, caso a pandemia não seja controlada até o fim de abril e as competições não possam ser retomadas até o fim de maio, se torna quase impossível continuar a temporada 2019/20 até o fim. Neste cenário, o jornal espanhol “As” prevê que o prejuízo da entidade que organiza as duas principais ligas de futebol da Espanha poderia chegar há quase 700 milhões de euros (pouco menos de quatro bilhões de reais). De acordo com os cálculos do “As”, o cancelamento dos dois torneios geraria prejuízo de 550 milhões de euros em direitos de televisão, quase 90 milhões de euros com assinaturas de TV de “ La Liga” e mais de 40 milhões em ingressos.
Danos da pandemia causam tensão política no mundo do futebol.
Na última segunda-feira (23), Gianni Infantino, presidente da FIFA, concedeu entrevista ao jornal italiano “Gazzetta dello Sport” e causou atrito com outras entidades. Quando perguntado sobre os danos que a paralisação poderia causar no mundo do futebol, Infantino não mostrou preocupação. “Talvez possamos reformar o futebol mundial dando um passo atrás: menos torneios, porém mais interessantes” foram as palavras do presidente da FIFA. Fundamentalmente, a ideia faz sentido, pois, encurtando as competições, além de o número de jogos serem reduzidos, haveriam mais jogos decisivos. No entanto, o discurso não caiu nada bem para os presidentes das competições internas de cada país, como foi o caso de “La Liga”. Javier Tebas não gostou nem um pouco da ideia, que provavelmente reduziria drasticamente o seu lucro por temporada, e foi à público rebater o presidente da FIFA, virando o feitiço contra o feiticeiro: “Infantino deu declarações inoportunas, mas tem razão. Podemos começar excluindo as datas FIFA – com partidas internacionais sem interesse -, o Mundial de Clubes…”, disparou o presidente de “La Liga”. Mas na última quinta-feira (26), uma reunião da FIFA, por videoconferência, com a Associação de Clubes Europeus (ECA) e a Federação Internacional de jogadores Profissionais (FIFPro), colocou panos quentes no assunto. As entidades discutiram como amenizar o impacto da paralisação de campeonatos em decorrência da pandemia e, entre as medidas, foi proposta a criação de um fundo econômico que possa manter a estrutura do futebol. A ideia do fundo é juntar milhões e milhões de euros em quantidade suficiente para manter a FIFA, as confederações (o que inclui “La Liga”), os clubes e os atletas. Para tanto, a principal medida imposta pela FIFA foi a de que os jogadores negociem uma redução considerável em seus salários. Em troca, os clubes não poderão rescindir os contratos com jogadores e técnicos pelo menos até o fim da paralisação. Com isso, aqueles que tem contrato apenas até junho (quando encerraria a temporada 2019/20), terão o vínculo com seus clubes estendidos para a nova data de término da temporada.