Apesar da existência de teorias controversas, todos temos conhecimento de que o futebol foi criado ou inventado na Inglaterra. Tanto que é lá que existem as equipes mais antigas do mundo, sendo a principal delas o Sheffield Football Club, que foi fundado em 24 de outubro de 1857.
Para se ter uma ideia, o clube brasileiro mais antigo é o Sport Club Rio Grande, fundado em 19 de julho de 1900 (23 dias antes da fundação da Ponte Preta), ou seja, quase 50 anos depois da fundação do clube mais antigo do mundo, que é da Inglaterra. Por conta de toda essa história de que o futebol foi criado na Inglaterra, em 1996, quando os ingleses sediaram a Eurocopa, a banda britânica “The Lightning Seeds” lançou o hit “Three Lions”, que diz em seu refrão: “Está voltando para casa. Está voltando para casa. Está voltando. O futebol está voltando para casa”.
A música cita, também, o único título de Copa do Mundo conquistado pela Inglaterra, em 1966, e fala sobre os 30 anos de dor dos ingleses por não terem voltado a vencer o Mundial e, sequer, uma Eurocopa. Esses 30 anos já se transformaram em mais de 50 anos de dor dos ingleses, que desde aquela Copa de 1966 não sabem o que é conquistar um título relevante com sua seleção profissional. Na Eurocopa de 1996, quando a música foi lançada para embalar a Inglaterra na conquista do primeiro título continental, a Seleção Inglesa fez boa campanha na fase de grupos, liderando o Grupo A (com Holanda, Suíça e Escócia), depois passou nos pênaltis pela Espanha nas quartas de final, mas acabou caindo nas semifinais, também nos pênaltis, para a Alemanha, que acabou se sagrando campeã sobre a República Tcheca na final.
Mas os ingleses ainda não desistiram, e já provaram que não vão descansar até que o futebol finalmente “volte para casa”. Na Copa do Mundo de 2018 a música “Three Lions”, que faz referência aos três leões que formam o escudo da Seleção Inglesa, voltou a ser entoada pelos torcedores ingleses, que invadiram a Rússia na esperança de que a seleção voltasse a conquistar o título mundial. E a Inglaterra fez uma boa campanha, mas acabou perdendo para a Croácia nas semifinais, na prorrogação, após empate por 1 a 1 no tempo normal. E na disputa com a Bélgica pelo 3º lugar, a Inglaterra foi derrotada no tempo normal por 2 a 0.
Mas não parou por aí. Na Eurocopa de 2020, disputada em 2021 por conta da pandemia, que foi sediada pela Inglaterra, os ingleses mais uma vez entoaram o canto da banda “The Lightning Seeds”, e a Seleção Inglesa chegou até a final da competição fazendo bonito: liderou o Grupo D de forma invicta na primeira fase, venceu a Alemanha por 2 a 0 nas oitavas de final, depois goleou a Ucrânia por 4 a 0 nas quartas e, na semifinal, desbancou a sensação Dinamarca, que vinha se superando mesmo sem o seu camisa 10, Christian Eriksen, que sofreu um mal súbito logo na primeira partida daquela Euro. Na final, porém, mesmo tendo aberto o placar logo aos 2 minutos do primeiro tempo, e tendo jogado o suficiente para merecer o primeiro título de Eurocopa, a Inglaterra cedeu o empate à Itália no segundo tempo e acabou perdendo nos pênaltis. O golpe foi tão duro para os comandados de Gareth Southgate (técnico da seleção desde 2016) que a Inglaterra acabou sendo rebaixada na UEFA Nations League 2022 (disputada antes da Copa do Catar), caindo da primeira para a segunda prateleira da competição europeia.
Mas ainda não foi o fim. Há uma luz no fim do túnel.
Copa do Catar pode ser a redenção da seleção com os torcedores ingleses.
Se a Seleção Inglesa teve uma derrota melancólica para a Itália na última Eurocopa, disputada em casa, a campanha nas Eliminatórias da UEFA para a Copa do Mundo do Catar, com 8 vitórias e 2 empates em 10 partidas disputadas, renovou as esperanças dos ingleses. O rebaixamento na UEFA Nations League pode até ter gerado alguma preocupação, mas uma goleada de 6 a 2 na estreia da Copa do Mundo certamente dissolveu qualquer desconfiança. Mais uma vez os ingleses fazem coro da música “Three Lions”, no Catar, com a expectativa genuína de que o “futebol volte para casa”.
Depois do empate sem gols com os Estados Unidos na segunda rodada, a Inglaterra voltou a brilhar, vencendo o País de Gales por 3 a 0 na última rodada da fase de grupos desta Copa do Mundo. Nas oitavas de final, Senegal era um adversário que poderia muito bem surpreender e eliminar a Inglaterra, mas isso passou bem longe de acontecer. Jogando com propriedade, com um esquema bastante semelhante ao do Brasil e da França, utilizando 3 atacantes (Bukayo Saka, Harry Kane e Phil Foden) e um meia de armação (Jude Bellingham), além de 2 volantes (Jordan Henderson e Declan Rice) e uma linha de 4 na defesa (Kyle Walker, John Stones, Harry Maguire e Luke Show), a Inglaterra sobrou na vitória por 3 a 0 diante de Senegal pelas oitavas de final. E vale destacar que, no banco de reserva, ficaram jogadores de altíssimo nível, como Mason Mount (Chelsea), Jack Grealish (Manchester City) e Marcus Rashford (Manchester United), sem se falar em Raheem Sterling (Chelsea), camisa 10 da Seleção Inglesa que ficou da partida contra Senegal por problemas pessoais, mas deverá estar de volta para enfrentar a França nas quartas de final.
Superar a França na partida deste sábado (10) é mais do que conquistar uma vaga nas semifinais da Copa do Mundo do Catar. Eliminar a atual campeã e uma das principais favoritas ao título desta edição vai tornar a Inglaterra ainda mais forte na semi e em uma possível final. E para conseguir este feito, a Inglaterra conta com o melhor ataque desta Copa do Catar, com 12 gols marcados em apenas 4 partidas (média de 3 por partida). O capitão e principal jogador da seleção de Southgate, Harry Kane, balançou as redes apenas uma vez, mas é um verdadeiro maestro na organização das jogadas e já deu 3 assistências. Além disso, os meninos ingleses estão assumindo a responsabilidade, dos quais Saka (21 anos) se destaca, com 3 gols marcados até aqui.