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Álbum da Copa: crise colecionável na Argentina  

Álbum da Copa: Como Messi e o mercado alimentaram uma crise colecionável

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A Copa do Mundo de 2022 será disputada em novembro e dezembro no Catar (Divulgação: Fifa.com/Getty Images)

Na Argentina, a demanda acirrada por um amado álbum da Copa do Mundo produziu longas filas, preços em alta e, brevemente, intervenção do governo.

Como os preços continuaram subindo, o departamento de comércio da Argentina decidiu que algo precisava ser feito.

Álbum mais sério do que se pensava

Os lojistas estavam preocupados com a escassez. Um fornecedor importante estava lutando para atender à demanda. Clientes desesperados estavam em filas enormes. 

Assim, há duas semanas, Matías Tombolini, secretário de comércio do país e um grupo de outros funcionários do governo reuniram os interessados em torno de uma grande mesa de conferência em um prédio comercial no centro da cidade para uma discussão aparentemente solene para buscar possíveis soluções.

Uma crise

A Argentina estava enfrentando uma crise: não tinha adesivos suficientes para a Copa do Mundo.

A cada quatro anos, torcedores de futebol de todo o mundo se apaixonam pela Copa do Mundo e pelos adesivos colecionáveis do tamanho da palma da mão, uma verdadeira febre pelo mundo inteiro atrás das figurinhas, algo impulsionado pelas redes sociais.

Este ano, no entanto, o passatempo de encher o álbum da marca Panini World Cup explodiu como nunca antes na Argentina. Uma confluência de questões de oferta e demanda do mercado, além de uma crise inflacionária doméstica e uma onda de expectativas de que a seleção argentina poderia ganhar o título desse ano tornou as figurinhas mais cobiçadas do que nunca e extremamente difíceis de encontrar.

Estão ficando raras

As lojas de esquina, onde as figurinhas normalmente são vendidas, viram sua oferta despencar este ano, levando pais e filhos a uma caça febril por revendedores de figurinhas, enquanto os preços de revenda disparavam. As raridades agora costumam ser vendidas por pelo menos o dobro do preço sugerido de varejo de 150 pesos, cerca de R$5,25, o pacote. Isso abriu espaço para as falsificações se infiltrarem no mercado.

As coisas ficaram tão ruins que até mesmo o governo nacional, que está lutando contra a inflação altíssima e uma sociedade cada vez mais descontente, encontrou tempo para intervir.

Tombolini, o secretário de Comércio, não respondeu aos repetidos pedidos de comentários, e sua reunião não resolveu o problema.

A ciência por trás da febre

Acuña, lojista da região de Buenos Aires, disse que sua resposta ao frenesi era uma ciência. Nos dias em que pode pôr as mãos em pacotes de figurinhas, ele os coloca à venda às 18h em ponto. Mas antes de entregar o primeiro pacote, ele examina a fila que se forma no quarteirão e raciona a quantidade que cada cliente pode levar para casa. 

Em alguns dias, o limite é de apenas dois pacotes por pessoa. Então Acuña fica na janela, enquanto fanáticos por figurinhas chegam com dinheiro na mão.

“A Copa do Mundo é uma coisa cultural. Fica uma loucura para todo mundo.” Disse Marcela Trotti em entrevista para uma tv ao acompanhar o filho de 11 anos, Franco, para comprar figurinhas.

Expectativa argentina com Messi

O aumento da demanda pode estar atrelado às expectativas, os argentinos estão otimistas com suas chances no Catar após a vitória do ano passado na Copa América e porque o torneio deste ano será a última Copa do Mundo com o craque Lionel Messi.

E em um clima econômico difícil em que a inflação anual deve chegar a 100%, a distração com o futebol tem sido muito bem-vinda.

Isso produziu uma economia crescente em que o valor dos pacotes no mercado clandestino de figurinhas disparou. Um único cartão de Messi estava sendo vendido por 3.000 pesos, cerca de 105 reais em Buenos Aires.

Uma figurinha especial de Messi foi listado por 60.000 pesos, mais de 2000 reais em um popular mercado online argentino. Um preço quase equivalente ao salário mensal de um trabalhador com salário mínimo. 

O frenesi das figurinhas chegou até a casa de Messi, o jogador confirmou após um jogo recente nos Estados Unidos que seus filhos também são colecionadores.

Escassez 

A Panini Argentina, subsidiária local da empresa italiana que vendeu os primeiros adesivos da Copa do Mundo em 1970, disse que não há escassez. “Há apenas uma demanda muito maior.” Disse a empresa em comunicado. Em resposta, a empresa aumentou a produção, embora lojistas se sintam afetados pela escassez causada pela alta demanda.

“A cada semana que passa, o pacote de figurinhas custa mais no quiosque, na rua, na internet.” Falou um lojista.

Jorge Vargas, dono de uma loja de figurinhas no centro de Buenos Aires, disse que não é que não se encontra, mas há apenas dificuldade. 

“É que elas são difíceis de encontrar a 150 pesos.” Disse Jorge.

Vargas conseguiu garantir um bom preço de um distribuidor confiável, o que lhe permitiu manter o preço sugerido, mas disse que outros distribuidores estavam optando por vender diretamente ao consumidor, muitas vezes online a um preço inflacionado.

Seus próprios clientes compram a granel, disse ele, depois vendem em parques a um preço bem mais alto. Alguns clientes ficaram agressivos num dia que ele ficou sem figurinhas, então agora ele precisa ser protegido pela polícia para ficar de olho nas coisas.

Alimentando a paixão pelo futebol

Para os colecionadores, um álbum de figurinhas completo é visto como um investimento que pode aumentar em valor, bem como os da última Copa do Mundo vitoriosa da Argentina liderada por Diego Maradona no México em 1986. Mas mais do que dinheiro, colecionar figurinhas é uma questão de memória.

As figurinhas estão mergulhadas em nostalgia. Num parque em Buenos Aires havia mais adultos do que crianças num domingo. Reunidos em grupos, eles trocavam as figurinhas conquistadas para completar seu álbum.

Esse parece ser o real objetivo, uma memória, uma união e colaboração para que todos possam conquistar seu objetivo que é completar o álbum. Apesar de todo transtorno que vem afetando o país, os fãs de futebol podem ter um bom momento de distração, confraternização e a sensação de que podem conquistar algo mais íntimo e pessoal no contato com a Copa do Mundo. 

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