Em entrevista ao telejornal SportsCenter, do canal esportivo ESPN Brasil, o ex-Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que uma apressada volta do futebol no Brasil não só não é recomendada como em sua opinião pode ajudar a aumentar ainda mais a propagação do novo coronavírus e obrigar a um lockdown no país.
“Acho que não tem elementos para a gente fazer essa decisão no momento. Estamos aumentando o número de casos. Seria decidir pelo retorno e logo à frente ter que suspender. É flertar com a possibilidade de uma quarentena mais rígida, de um lockdown, como se chama. Seria a possibilidade de colocar o futebol como um dos corresponsáveis de uma situação crítica para a sociedade que acho que não faria bem ao futebol”, avaliou.
Na opinião do ex-ministro do governo Jair Bolsonaro – desde 17 de abril a pasta é comandada por Nelson Teich -, seria mais recomendável analisar primeiro a situação dos países que estão mais adiantados no controle da COVID-19, como passaram pela crise e como será quando retomarem o futebol.
“Acho que a gente não tem elementos (de que é seguro voltar o futebol no Brasil), acho que a gente deve esperar um pouco mais, como que isso vai se dar na Europa, onde já passou o pior da crise, para que a gente se prepare para passar a nossa crise e depois tomarmos as nossas decisões”, sugeriu.
Brasil tem outras prioridades, defende ex-ministro
“Ao meu ver, nós teríamos outras medidas mais importantes para fazer antes de falar de retorno de futebol. Acho que a gente estaria atropelando a história natural desse vírus, e ele gosta mesmo de ser desafiado. Ele não negociou com ninguém, (com) nenhuma pessoa, por mais poderosa, cheio de certezas que o desafiou”, ponderou.
“Ele fez questão de derrubar sistemas, causou muito sofrimento. Nós estamos falando de uma doença nova, uma doença que derrubou o sistema de saúde da Itália, da Espanha, da França, da Inglaterra, de Nova York, de Chicago, da Califórnia, da Flórida. Quer dizer, nós não estamos falando de uma doença que seja passageira, leve”, alertou.
Comparação com Alemanha
A Bundesliga já oficializou o retorno para o dia 16 deste mês, em meio a um início de afrouxamento de medidas de isolamento social da Alemanha, um dos países que mais testa a população local para a COVID-19 e por isso mesmo tem um número de mortes bem menor, considerado o de infectados pelo novo coranvírus.
Na conversa com a ESPN, Mandetfta chegou a comparar a situação brasileira com a da Alemanha. Para ele, o nosso país infelizmente ainda está muito longe de chegar ao mesmo patamar.
“A Alemanha vai fazer um protocolo muito rígido. É um dos poucos países que tinha uma capacidade instalada. É um país que trabalha em seus hospitais com redundância: tudo que ela tem ativo, tem no depósito do hospital em dobro. Então, quando teve necessidade, expandiu a rede muito rapidamente. E tem profissionais muito bem formados”, explicou o ex-ministro da Saúde brasileiro.
“O Brasil tem problemas de equipamentos de proteção individual, de respiradores e de profissionais de saúde. Então o que seria razoável seria administrarmos duas variáveis, velocidade de transmissão e vulnerabilidade/fragilidade do sistema, melhorando a performance do sistema, dando mais robustez e controlando ao máximo possível a transmissibilidade, a gente passaria por esse estresse de uma maneira um pouco mais lenta, mas teríamos muito menos perdas”, comparou.
Lembrança do futebol aumentando crise italiana
Mandetta ainda lembrou sobre o drama da região da Lombardia, a mais afetada da Itália pela COVID-19, e da avaliação de muitos de que o futebol, sobretudo o jogo Atalanta x Valencia, em Milão (no norte do país), pela Champions, possa ter contribuído para o crescimento da epidemia, aliada a um discurso do prefeito de Milão, Giuseppe Sala, contra o isolamento social. O político depois se desculpou e assumiu o erro.
“A Itália nem pensa em discutir volta de futebol e lá em cima, na região da Lombardia, colocaram na conta do prefeito de Milão, da cidade de Milão, dos jogos de futebol como prováveis vilões da proliferação do vírus naquela região e que hoje nem conseguem discutir isso (retorno do esporte).”
Mandetta: “Esse vírus gosta de ser desafiado”
O ex-ministro do governo Bolsonaro pregou respeito das autoridades ao potencial de causar danos do novo coronavírus, que já afetou vários países poderosos no mundo, e segue ainda gerando dificuldades e muitas mortes.
“Esse vírus gosta mesmo de ser desafiado, ele não negociou com ninguém. Não teve nenhuma pessoa, por mais poderosa e cheia de certezas, que o desafiou. Ele fez questão de derrubar sistemas, causou muito sofrimento. Estamos falando de uma doença nova, que derrubou o sistema de saúde da Itália, da Espanha, da França, da Inglaterra, de Nova York, de Chicago, da Califórnia, da Flórida… Não estamos falando de uma doença que seja passageira, leve”, reforçou.
Pressão pró-economia e isolamento light brasileiro
Mandetta falou, ainda, sobre as pressões de empresários brasileiros por uma apressada volta das atividades, sob o argumento da crise econômica.
“Quando você quer acelerar a volta, e esse é um debate que eu tive com vários empresários, você corre o risco de acelerar, em nome da atividade econômica ou do esporte ou do argumento que for utilizado. Esses argumentos são todos muito fortes e aí a pessoa cai na tentação de acelerar. Essa aceleração pode levar a um quadro de transmissão desordenada, que leva a cidade ao que chamam de lockdown. Não gosto de palavras inglesas, eu chamo de quarentena”, declarou.
E ainda fez questão de diferenciar uma quarentena, algo mais rigoroso, do frouxo isolamento social brasileiro.
“Muita gente está achando que quarentena é aquilo que nós experimentamos nos meses passados. Não, ali nós só fizemos a recomendação pelo bom senso, orientação, mas nós não paramos ninguém. Quando você determina quarentena ou lockdown, aí é uma coisa muito mais dura, é ficar em casa, sair no máximo para 50 metros da sua casa sob pena de multa ou prisão. É uma coisa impositiva, a força da lei vai te colocar dentro de casa.”, explicou Mandetta.
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