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Opinião: o futebol brasileiro na contramão da evolução  

Antes de tudo que direi a seguir, gostaria de enfatizar que este não é um artigo de defesa dos treinadores estrangeiros, principalmente Domènec Torrent, que foi o caso-chave que me motivou a escrever este conteúdo. A análise aqui é com base em uma verdade que rege em nosso futebol, com dados verídicos.

Catalão Domènec Torrent foi demitido pelo Flamengo após derrota por 4 a 0 para o Atlético, pelo Brasileirão (Foto: Alexandre Vidal/CRF)

É sabido pela maioria que toda mudança gera reações, às vezes positivas (é o que se espera) e outras negativas. No futebol brasileiro, a primeira ação para se tentar resolver o problema de um time que não está gerando bons resultados é sempre a troca do seu treinador. Essa seria a postura mais correta? Não gerou resultados imediatos, trocamos o comandante. Essa é a filosofia dos clubes brasileiros. 

Após 20 rodadas do Brasileirão, com a demissão de Domènec do Flamengo e o pedido de demissão de Rogério Ceni do Fortaleza, faz com que o Brasileirão da Série A tenha 15 trocas de treinador. Dos 20 clubes da primeira divisão, só Grêmio, São Paulo e Fluminense têm o mesmo comando desde janeiro.

Com a chegada de Jorge Jesus ao comando do Flamengo, em julho de 2019, e depois de ter ganho praticamente tudo que disputou, com exceção do Mundial de Clubes, o português registrou mais títulos do que derrotas. Após sua saída (em julho/2020), uma nova tendência, uma espécie de cultura dos clubes brasileiros de contratarem técnicos estrangeiros se fortaleceu. 

O Brasil começa a fracassar na tentativa de mudar conceitos com técnicos estrangeiros, que de mudarmos a si mesmo, mudar a nossa cultura e/ou filosofia de trabalho no tocante a gestão de treinadores, se isso não mudar, podem vir treinadores de qualquer parte do mundo que o processo será o mesmo. 

Falando do caso de demissão mais recente, do Domènec, ex-treinador do Flamengo, que chegou ao Brasil para fazer um trabalho de longo prazo. No Brasil? Fazer trabalho de longo prazo? Talvez o primeiro erro do treinador tenha sido acreditar nisso. 

Como era o Flamengo que o Domènec encontrou: uma herança excepcional deixada pelo trabalho de Jorge Jesus, um trabalho fora da curva, diferente de tudo que a realidade dos demais clubes brasileiros viviam, uma torcida inflamada de amor pelo clube, com plena razão, considerando os resultados e números do time.

Domènec Torrent, orientando o volante Willian Arão durante primeiro treino no Ninho do Urubu (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Contudo, apesar de todo trabalho que é muito bem realizado, deixa uma lacuna que na maioria das vezes não será preenchida pelo sucessor. Sabendo disso, é muito difícil imaginar que o mesmo nível de Flamengo de Jesus fosse mantido com o Flamengo de Dome. É verdade que o técnico catalão pegou o time praticamente pronto. Era óbvio que ele não iria conseguir manter o mesmo padrão de alto nível, são pessoas e conceitos de trabalhos diferentes. 

A demissão é autoexplicativa. Tem tudo a ver com seu fracasso, mas também com o nosso, de não entender que é preciso contratar certo e manter trabalhos, para ter melhor nível de jogo.

O Domènec Torrent virou estatística, foi o 14º treinador trocado em 20 rodadas de Brasileirão, o que significa que nosso remédio não está nem sequer na nacionalidade dos técnicos, como muita gente faz parecer. Os treinadores brasileiros estão superados e desatualizados. Sim, nós, brasileiros. Não somente o Dome, mas todo o futebol do Brasil, dos dirigentes aos treinadores, dos torcedores aos jornalistas.

Outro caso recente de estrangeiro deixando o clube brasileiro é o do técnico do Internacional, Eduardo Coudet, que reincidiu seu contrato com o Internacional, líder da competição, para ir treinar o Celta, da Espanha, que ocupa a 17ª posição no campeonato espanhol. 

O argentino fez certo em sair do Inter, líder de um campeonato complicado, como é o nosso Brasileirão, para ir treinar um time que briga somente para não ser rebaixado na Espanha? Provavelmente isso tenho sido fruto de como nos comportamos sempre. Nossos gramados, nosso calendário, nossos compromissos não cumpridos etc. Coudet será uma perda expressiva para o Inter.

O xis da questão é que os clubes propõem um projeto de longo prazo ao contratar o treinador, mas na prática não suportam a pressão de alguns resultados ruins e a primeira “solução” é a troca do comando time. O tempo passa e o futebol brasileiro como um todo anda na contramão da evolução. 

Um forte abraço a todos e até a próxima.

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