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Na segunda divisão pela primeira vez, Cruzeiro acumula problemas e jogadores duvidam do acesso  

O que aconteceu com o Cruzeiro de um ano para o outro?

Adilson caiu após a derrota do Cruzeiro para o Coimbra, pelo Campeonato Mineiro (Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Já fazem mais de três meses desde que o Campeonato Brasileiro acabou e o Cruzeiro teve seu rebaixamento decretado, pela primeira vez em sua história (agora, apenas Flamengo, Santos e São Paulo nunca caíram de divisão). No entanto, muitos ainda têm dúvidas sobre os fatores que realmente afetaram o Cruzeiro no ano de 2019, um time campeão da Copa do Brasil nos dois anos anteriores (2017 e 2018). Para se ter uma ideia, De Arrascaeta foi a única perda considerável da raposa em 2018. De resto, a equipe se manteve basicamente a mesma no ano seguinte (Fábio, Dedé, Léo, Egídio, Edílson, Henrique, Ariel Cabral, Lucas Silva, Thiago Neves, Fred, entre outros). Mas houve uma mudança drástica de uma ano para o outro. O time campeão da Copa do Brasil e oitavo colocado no Brasileirão em 2018, caiu nas semifinais da Copa do Brasil e terminou rebaixado no Brasileiro de 2019. Então, a questão permanece: o que foi que aconteceu? Em seu canal do Youtube, Alê Oliveira entrevistou o lateral-esquerdo Egídio na semana passada, que vivenciou os momentos de glória e também a campanha do rebaixamento. Em um primeiro momento o jogador apontou para a má administração, que acumulou dívidas mesmo com dinheiro entrando em caixa constantemente e passou a atrasar o salário dos jogadores: “Aconteceram algumas loucuras. Não foram um ou dois meses sem receber, foram muitos” disse o lateral. Por fim, Egídio afirmou que “todos tiveram culpa” e, em um determinado momento, “a energia (ruim) começou a pesar” dentro de campo.

No início de 2019, o Cruzeiro parecia o mesmo dos anos anteriores. O time então comandado por Mano Menezes ficou sem perder durante as primeiras vinte e uma partidas do ano, chegando a uma sequência de onze vitórias (entre Campeonato Mineiro e Copa Libertadores). A primeira derrota só veio na primeira rodada do Campeonato Brasileiro , fora de casa, diante do Flamengo. Até aí, nada de anormal. O problema começou à partir da quarta rodada do Campeonato Brasileiro, quando o Cruzeiro foi dominado pelo Internacional no Beira-Rio e saiu derrotado por 3 a 1. Mas ainda era um resultado dentro do normal, até que na rodada seguinte o time de Mano Menezes foi atropelado pelo Fluminense no Maracanã (4 a 1 para o tricolor). Depois disso ainda vieram derrotas para Chapecoense e Fortaleza, além de outros três empates. Com o Cruzeiro na zona de rebaixamento na nona rodada do Brasileirão, a pressão passou a crescer sobre o técnico, que buscava alternativas táticas para arrumar um time que parecia não sair do lugar. Uma vitória por 3 a 0 sobre o Atlético Mineiro nas quartas de final da Copa do Brasil deu certo fôlego para Mano Menezes. No entanto, começaram as especulações de que os salários não estavam sendo pagos nas datas ou quantias corretas e nenhuma vitória veio em oito jogos. O Cruzeiro amargava a zona de rebaixamento com apenas 10 pontos em 13 rodadas, foi eliminado da Libertadores e uma derrota para o Internacional no primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil foi a gota d’água para Mano Menezes.

Para o seu lugar, Rogério Ceni foi contratado como o “salvador da pátria”. Nos primeiros três jogos o novo técnico conquistou três vitórias e abriu quatro pontos da zona de rebaixamento. Mas os problemas de salário continuavam e outra derrota para o Internacional, esta por 4 a 0 (no jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil), fez todo o trabalho de Rogério Ceni desmoronar. Thiago Neves atacou as escolhas do novo treinador em entrevista coletiva e o relacionamento entre elenco e comissão técnica rachou. O Cruzeiro teve sequência de jogos indigesta no Campeonato Brasileiro (contra Grêmio, Palmeiras e Flamengo) e perdeu todas. O Cruzeiro voltou para a zona de rebaixamento e Thiago Neves seguia fazendo críticas à Rogério Ceni, que optou por deixá-lo no banco de reservas em partida contra o Ceará, decisiva para o time mineiro no Brasileirão. Um empate sem gols não foi o suficiente para acalmar os ânimos e mais um jogador resolveu bater de frente com Rogério Ceni: o zagueiro xerife e intocável, Dedé. Foi a gota d’água. Rogério Ceni acabou sendo demitido, Thiago Neves se envolveu em escândalos junto à diretoria, Dedé passou o resto da temporada machucado e o Cruzeiro se afundou na zona de rebaixamento, onde permaneceu até o fim do campeonato.

O que esperar do Cruzeiro em 2020?

Agora sim muita coisa mudou no Cruzeiro. Depois da queda à Série B do Campeonato Brasileiro, apenas Fábio, Léo, Edílson, Ariel Cabral e Robinho permaneceram. A lista de jogadores que deixaram a raposa foi gigante e o time não tem dinheiro suficiente para se reconstruir. O elenco atual é formado, em sua maioria, por jogadores das categorias de base. Até a parada das competições brasileiras por conta da pandemia, o Cruzeiro venceu apenas quatro de doze jogos que disputou. Todas as vitórias aconteceram no Campeonato Mineiro. Pela Copa do Brasil, a raposa se classificou nas duas primeiras fases com empates (diante do São Raimundo-RR e Boa Esporte). Em seu penúltimo ano antes da paralisação, pela terceira fase da Copa do Brasil, o Cruzeiro foi derrotado em casa pelo CRB por 3 a 0. Como resultado, Adilson Batista foi demitido, readmitido e, depois de mais uma derrota, deixou de vez o comando técnico do clube mineiro.

Na semana passada, em uma interação ao vivo com fãs através de seu Instagram, o único reforço do Cruzeiro na temporada até aqui, Marcelo Moreno, declarou: “com o time atual, eu acredito que seja muito difícil (subir de divisão)”. De acordo com o atacante boliviano de 32 anos, “quando você coloca todos os jogadores dos juniores para serem a base do Cruzeiro, fica difícil para jogar como estamos acostumados”. No entanto, Moreno também afirmou que “o Cruzeiro está em um momento de reconstrução” e que o time ainda “vai melhorar muito”, pois acredita na chegada de novos jogadores. Para encerrar, o boliviano preferiu olhar para o futuro com esperança: “As coisas vão mudar! Eu acredito, sim, que o time vai subir” encerrou Moreno.

Apoiando as declarações do jogador, Carlos Ferreira (membro do Conselho Gestor do Cruzeiro) disse em entrevista à “Rádio Itatiaia” que o clube “está em dia com todas as obrigações assumidas desde o início de sua gestão e, com um trabalho árduo, conseguiu equalizar as finanças”. Ferreira também afirmou que o Cruzeiro não deve sentir tanto o peso da crise por conta da paralisação das competições quanto outras equipes e, portanto, deverá investir em novos reforços para o elenco.

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